segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Corrente de rio



Duas lágrimas rolaram de meus olhos,
Pequenas, brilhantes e singelas,
Apenas dois pontos escorrendo em meu rosto,
O que por hora parece um adeus,
Ficará nas mãos deles decidir,
Não me cabe a tristeza na liberdade,
Mas a dor de lhe ver fustigada pelos espinhos,
Esses mesmos que já me arruinaram,
Nadei de peito aberto em seus ramos,
Emaranhando em meu corpo,
Tamanha dor que me reconfortava,
Mártires de tantas existências,
Punindo a si mesmos nessa,
Flagelando-se por erros não cometidos,
Andando na ponta dos pés em afiados corais,
Rasgando-se, se remendando, se reconstruindo,
Assim sempre foi o caminho,
Do alto de minha torre mais alta,
Vislumbro sua partida a galope,
A meu pedido partiu,
A frente o campo de batalha, 
E aqui ficarei a observar suas lutas diárias.

Raio duplo destruído



Aqueles dias em que a maldade humana tomava meu ser,
A patente que me colocou em destaque no esquadrão,
Destruição de vidas e extermínio de indefesos,
A reparação daquilo que nunca foi infligido,
Insígnia pesada que carregava em meu peito,
O duplo raio negro ornamentado pela cruz da escuridão,
A primeira lembrança de seu sorriso encantador,
Foi no mesmo momento em que conhecia meu senhor,
Senhor dos enganos e ilusões ao qual seguia cegamente,
Foi você que tão sabiamente novamente da escuridão me retirou,
Me resgatando com suas asas de papel,
Papeis esses que era de minha função a destruição,
E de sua a proteção tão zelosa,
A biblioteca da cidade era como sua grande morada,
O fogo dessa vez era o que consumia suas esperanças e sonhos,
Entre lagrimas de desespero e fúria se fez você,
Recompôs minh’alma ao estado primal do ser,
Então despertei de minhas amarras,
A primeira viagem de avião e a fuga do antigo continente.

Revoluções por minuto



O cheiro de revolução pairava no ar,
A cidade em polvorosas gritos de revolta,
Novamente o fogo consumia tudo ao redor,
A liberdade estava sendo criada em meio a destruição,
Ao meu lado corria você em meio à multidão,
Nossas mãos tão apertadas que se misturavam,
O suor em minha testa escorria em direção aos olhos,
Em um relance dos olhos piscando,
A explosão foi ouvida por meus tímpanos perfurados,
Seu corpo lançado ao longe, tão longe que não mais encontrei,
Só me restou a dor, angústia, seus dedos entre os meus,
Em meus últimos segundos de vida na liberdade que viria,
Um sorriso de dever cumprido,
Mártires esquecidos de uma revolução tão velha quanto a história.

Capa e Anel



Retornamos juntos quando nada mais eu tinha,
Novamente estava perdido em meio a destruição,
Nem mesmo a fala me foi concedida facilmente,
Anos de tortura em meio a uma vida de tristeza e solidão, 
Assistindo como um espectador avido, 
A vida que passava devagar em meio a comunidade rural,
A tragédia pressentida de meus futuros dias,
Morte e desalento me tomavam pelas mãos,
O refúgio obtido do visto como opressor,
As investidas arbitrarias que me afugentavam de meu destino,
Foi então que em meio a escuridão lhe vislumbrei,
A querida sobrinha do monsenhor que me fustigava,
Senhora do meu destino novamente tecido com seus laços,
Pusera a luz em meus olhos e a fúria de viver em meu coração,
Uma guinada em meus dias foi arquitetada pelo senhor da capa,
Em meio a noite iluminada pela lua alta,
A fuga de meu destino me pois a andar, 
“Volte, tome tudo que lhe é de direito, até ela.”
Disse o vulto espectral diante de mim ao me entregar a capa e o anel.

A torre



Nunca assim lhe escrevi,
Dizendo o esquecimento de nossas aventuras,
Lhe fazendo visualizar tudo que já revi,
Voltaremos então a primeira lembrança,
Aquela em que acordei de súbito,
O ambiente mal iluminado, 
Jazia meu corpo em repouso por entre peles,
A fulgura longínqua de uma fogueira,
O medo do desconhecido que me tomava,
Terras longínquas das quais não voltaria,
Perdido em meio a minha dor e fé,
Um surto de pura insanidade,
Então na escura gruta penetra a figura,
Esguia, pálida, com seus cabelos negros,
Os olhos assustados ao ver-me desperto,
Seu pavor explicado por atitudes corriqueiras de meu povo,
Em suas mãos uma tigela de madeira,
Adornada por nós e tribais celtas,
Foi a primeira vez que me lembro de ti,
O calor de sua chama interior me consumiu por completo.

Depois do "E"



Eu esperei a eternidade,
Estive paralisado por vidas inteiras,
Enquanto o tumulto passava por entre meus olhos,
Esvaia-se a felicidade de meu ser a conta gotas,
Envenenava-me de angústia e solidão,
Enraizado estava em um drama sem fim,
Era como um ser nefasto a procura de algo a que se agarrar,
Entorpecido e inebriado por uma dor lacerante,
Encarava a vida como que a procura de seu fim,
Estando sempre preso a ciclos infinitos de destruição,
Endurecido pela raiva que me consumia,
Envaidecido por falsas vitorias de outrora,
Ensurdecido pelo orgulho que consumia meus dias,
Entrando profundamente nos vales sombrios das vaidades, 
Estupidamente me condicionava a uma coragem sem limites, 
Foi então que tudo aconteceu,
E com um apagão repentino a luz novamente me rompeu o ser,
Há de ser agora morada em mim eternamente.

Museu de olhos abertos



Foram em tempos sombrios,
Mesmo assim o sol brilhava em minha janela,
Apareceu em meus dias com a leveza de um sorriso,
A força dos antigos se fez presente em seus passos,
O brilho em seus olhos refletia,
A chama que em combustão consumia seus medos,
A mesma que queimava ardente no palácio de Atenas, 
Seu caminhar tão incrivelmente compassado,
Tão bela como uma antiga valsa vienense,
As cores emanadas de ti,
Formando uma linda paisagem como as da Vênus,
Seu corpo uma perfeita moldura ao que carrega em seu coração,
Uma ode de perfeições escrita incrivelmente como Julieta,
Tão incrivelmente forte que Helena se curvaria a seus pés,
A beleza contida em seu ser caminhando a eternidade homérica,
As mais incríveis efígies construídas ao seu louvor,
Esculpida em mármore travertino com detalhes de Milo,
O céu de sua boca tão lindamente decorado como a Sistina,
Poderia muito bem decorar os corredores do Louvre,
Ou em qualquer museu desse pequeno e redondo planeta,
Mas a beleza está contida em toda sua liberdade, pois, 
És tão antiga quanto o mundo que habitava antes desse.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Rosas




As rosas são as mais belas flores,
E em todas elas há espinhos,
Tão grossos e rígidos como ossos,
As feridas em minhas mãos se cicatrizam,
Em meu peito resta a dor lancinante,
Meus olhos marejados dela transbordam,
Uma lagrima solitária recobre o papel,
Impedindo-me de               escrever a próxima linha,
As lembranças de seus sorrisos ferem minha alma,
Como um cinzel a forjar meu ser,
Lapidando a pedra bruta que esconde meu eu,
Retirando da cela o monstro que em mim habita,
Esse que berra seu nome em desespero sepulcral,
As noites de conversas alucinantes se findaram,
Só me resta o silencio e a companhia da escuridão,
No escuro do meu quarto interior,
Em um canto recluso e soturno mais distante,
Um menino se esconde em posição fetal,
Em meio a prantos com os olhos marejados,
Seus sapatos desamarrados em contradição com seu semblante,
Os olhos cheios de ódio e dor fitam a escuridão,
E ela lhe estende a mão em afago,
Entregando-lhe seu destino amargo,
O pequeno ser que me habita cede as suplicas,
Da tão velha amiga escuridão,
Essa que sempre lhe tomou os dias os fazendo mais bonitos,
Esse pequeno que não mais amaldiçoaria o destino,
Mas sim sempre saberia que seus erros e acertos seriam reconhecidos,
A justiça em seu ser foi forjada por um martelo de raios,
Coragem de viver a vida com suas máscaras de prazer,
Esperando um dia poder viver a vida que sempre há prometido a ti,
Um guardião inefável do tempo que passa arrastado,
Sabe-se do sangue que escorre de suas mãos calejadas pelos milênios,
Nesse tempo não há mais de sangue escorrer,
Há necessidade da espada já se foi com os barcos à deriva,
E aqui agora lhe resta a pena a qual seu coração será sucumbido.

domingo, 14 de abril de 2019

Mãe Pagã


Era um pais cheio de preconceitos e indecisões,
Feito completamente de desmandos e intromissões,
Cunhado por base em destruição,
Carregando sangue inocente em suas mãos,
Era para os mais afortunados uma mãe,
Fortuito e cheio de ilusões,
Em sua historia ficou cravado dos jesuítas a missão,
Catequizar suas almas tornando-os cristãos,
Do índio ao negro fez-se a destruição,
O desvario vem desde a colonização,
Escravizaram seus pais e estriparam suas mães,
Do pelourinho o sangue escorreu por toda a nação,
Em todo o pais ecoou uma voz feita de rebelião,
Das águas escuras e gélidas de um rio,
Foi formada sua imagem negra quase pagã,
Trouxe as bençãos em suas mãos,
Em seu ventre a esperança do raiar,
Seu rosto jazia escondido,
Foi então que em uma rede de pesca o acharam,
A mãe imaculada novamente inteira estava,
Pelo milagre foi restaurada e por todos aclamada,
A ti peço abrigo em teus braços tenho afago,
Peço a esperança e a liberdade para esse povo desinformado,
Que sem educação é forjado,
Todas as noites sobe aos céus meu muito obrigado,
Por me amar incondicionalmente,
Oh! Mãe Maria Imaculada.

domingo, 23 de julho de 2017

E eu seria rei...


Hoje eu só queria,
Deitar contigo ouvindo aquela canção,
Não aquela que fala de paixão,
Aquela sobre como agir diante a vida,
Qual sempre contigo quis ouvir,
Seria um deleite eterno,
Sentir-te aconchegar em meus braços,
Lembra-se das risadas sem fim,
Ou do jeito como olho pra você,
Como acho graça no seu modo,
Vem agora em minha mente,
Você correndo para atravessar,
Enquanto atravesso calmo como se a vida fosse um passeio,
Eu só queria que fosse verdade,
Que esse pedaço de espuma e linho,
Se transmutasse em ti,
Ah! Pai... Como eu queria que fosse verdade,
Queria poder ser um piloto, 
E lhe ver sobre as nuvens,
Mesmo assim com as pessoas como formigas,
Saberia que é você em meio a multidão,
E como um corvo a voar,
Pousaria em sua janela,
E levaria você em minhas asas a casa do sol nascente, 
Para juntos aproveitar-mos seus primeiros raios,
Quem prezo por iluminarem nossas vidas.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Chuva de Abril


A chuva que cai agora,
É como a que caia de meus olhos,
Mas essa que me lava o corpo,
Também me tira a dor d’alma,
Faz-se em sorrisos as lagrimas,
Quando a dor de mim se for,
Com toda certeza a força se faz,
Essa força que tanto me foi imposta,
Hoje derruba e lhe mostra quanto me gosta,
Já não é necessário dizer que aqui sempre estarei,
Diga-me a força que é emanada de seus olhos,
Pois sinto em meu peito a lhe abraçar,
Saiba que comigo não há necessidade de assim ser,
Mas a vida lhe fara esse pedido,
Quisera que fosse de minha força,
Tirar-lhe essa dor que tem carregado,
Carregar comigo assim como as culpas,
Entregar-lhe a felicidade que a duras penas conquistei,
E que essa conquista compartilhada por ti,
Seus olhos não mais aflitos seriam novamente,
Ainda vejo o brilho no fundo desse mar negro,
Que de castanho foi mais belamente pintado,
E pelo azul muito sutilmente decorado,
Assim como o profundo mar é negro,
Que minha força lhe coloque novamente,
Na superfície azul e eterna desses olhos seus.

sábado, 10 de setembro de 2016

Você já reparou os sapatos...


Sabe os sapatos,
Isso... Esses mesmos,
Passando quase sempre apreçados,
Correndo as vezes de um lado a outro,
As vezes eles dizem muito sobre alguém...
Talvez não também,
Mas eu gosto de observa-los,
Passam em meio a estação como raios,
A maioria deles pretos ou brancos,
Alguns misturam cores psicodélicas,
As mulheres preferem os de salto,
Alguns homens também ficam elegantes com eles,
Mas ninguém deixa de usar sapatos,
É engraçado pensar,
Algumas pessoas até fazem as outras de gato e sapato,
Será que se eles tivessem sentimentos iria entender isso?
Ou talvez... Morderiam nossos calcanhares de Aquiles,
Na esperança de não mais ser pisados...

domingo, 12 de junho de 2016

Sabado


Você surgiu como uma certeza entre minhas dúvidas,
De supetão tomou meu destino em suas cálidas mãos,
Senti o gelo em meu coração desaparecer,
Com o fogo que emana dos seus olhos,
Retornando a bater em ritmo cadenciado,
Simplesmente por lhe ter ao meu lado,
Compassado como nossos pés a caminhas,
De um lado para o outro da avenida sem cessar,
O cansaço nos dá grande espaço,
É substituído pelos seus sorrisos sinceros,
Por trás desse vidro que lhe permite enxergar,
Posso ver de perto como um brilho solar,
Radiante e com seus raios fortes a emanar,
E como uma galáxia a rodopiar,
Vejo um misto de sentimentos em seu olhar,
Mas ao fim, mesmo com a cálida tristeza que lhe toma,
Um lindo sorriso me ponho a vislumbrar,
Como seria bom todos os dias serem sábados,
Mas não quais quer sábados,
Sábados como esse que passei ao seu lado,
Lado esse que gostaria de para sempre estar.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Mortalha


Ai como me dói,
Esse coração dilacerado por entre meu peito,
Mal palpita nesse instante maldito,
Esse que por hora bate,
Mas logo cessara sua marcha,
Marcha essa para a morte certa,
Minha amiga que me faz tanta falta,
Venha e me abrace logo de supetão,
Me leve como um verdadeiro irmão,
Estou aqui a sua espera amiga minha,
Espero com tanta euforia,
Chega a me dar agonia,
Essa espera que logo terminara,
Minhas mãos frias já não sentem mais,
Pois o gelo em minh'alma se instaurou,
Essa sensação feliz das lagrimas esquentando meu rosto,
São as ultimas que brotam de meus olhos posso sentir,
Não mais aconteceram outras,
Pois a vida se está esvaindo de meu corpo lentamente,
Amiga minha que bom lhe ver novamente,
Com sua bola e corrente,
Já me vai entregando meus instrumentos saudosos,
Com os quais um dia me tive poderosos,
A escuridão novamente me abraça,
E sei que será agora,
Nem mais espero a hora,
Em que novamente lá estarei,
Não se esqueça de mim,
Pois onde quer que esteja,
De você me lembrarei.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Vingança


Queria ser tão frio quando esse metal que me cobre,
Essa maldita aflição que me assola,
Assombrando-me com memorias de um novo passado,
Sozinho o caminho é sem graça,
É como se fosse o mais rigoroso inverno,
Mas sinto esse frio em meu ser,
Como se novamente congelasse o sangue em minhas veias,
Queria que jazesse em terra essa carne fraca que me envolve,
Repousaria assim sem medo do amanhã,
Tornando a voltar pra casa,
Mesmo que em trevas envolto como um lençol,
Estaria feliz em fim como um cão,
Ficaria reposto em meu lugar,
Esse ao qual nunca deveria ter saído,
Sinto o sangue faltar em meus dedos,
Já é hora de retornar a aquele lugar tão bonito,
De onde a injustiça é selada em véu,
Meu corpo já não tem mais forças para sair desse chão,
E como o frio mármore a me expor,
Sepultado jaz meu corpo em dor,
E esse maldito topor que me isola desse mundo cruel,
Corte minha carne oh lamina da justiça,
Faça-me voar com os símbolos que me atiçam,
E novamente estarei a cuidar de ti,
Mas por hora vigio sua sombra de um lugar diferente,
E um dia minhas asas se tornaram reluzentes,
Mas não hoje, hoje só resta a vingança em meus olhos,
E a vontade de morte em meu coração.

domingo, 10 de abril de 2016

Prisão


Peito aberto em ferida exposta,
A dor lancinante cega os olhos,
Mas essa já não é ferida em carne,
Foi n’alma que se lançou garras,
Destruindo tudo aquilo que fui um dia,
Expôs meu ser aberto e frágil à chuva gélida,
A vida se esvai de meus olhos agora,
O dia cinza já não me é tão belo a vista,
Ah! Furiosa dor que me assola,
Deixe-me aqui novamente em isola,
Estou aqui agora em extrema agonia,
Jogado como poeira a espera do vento,
Nesse chão de puro lamento,
A solidão como companheira,
Acompanha-me nessa insana bebedeira,
A confusão dos dias quentes de verão,
Joga-me novamente nessa maldita prisão,

E aqui fico eu, encarcerado novamente em meu coração.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cidade Luz


A cidade luz se rende,
A escuridão noturna,
O azul celeste da passagem,
Ao negro que toma a cidade,
Apenas os semáforos,
Iluminam as ruas calmas,
Aqui penso eu,
Que um dia tal sombra,
Invadiu-me a alma,
Nas praças gestão a geada,
Essa bendita noite alucinada,
Que por seu corpo perfumada,
Segue gélida e fria desvairada,
Como por um coche a andar,
Penetro a cidade despovoada,
Essa louca e cinza paulisteia,
Iluminada por neon,
Resplandece cintilante,
Em meio ao som das trombetas infernais,
Ouço o lamento dos ancestrais,
Já posso avistar o planalto principal,
Dessa cidade voraz e letal,
E as noites frias dessa estação,
Alegradas são por entre suas mãos.

Fumaça


Já acessas as brasas,
Do meu surrado e velho cachimbo,
Repousa em minha boca,
As brumas do tempo,
Em minha memória,
Que jaz atormenta,
Por esse passado teimoso,
Que surge como um turbilhão,
Queima livre o tabaco,
A meia luz de um candelabro,
Lembro-me do passado a muito esquecido,
A tal hora já havia adormecido,
Em seus pequenos braços desvanecido,
A fumaça que deixa meus lábios,
Lembra-me agora o vento do norte,
A neblina marítima daquela ilha,
Baía pelos deuses esquecida,
Como um dorso de baleia,
No horizonte se erguia,
O som das puxadas em meu cachimbo,
Tanto se assemelham as velas,
Infladas ao vento forte,
Cachimbo bendito que me fez lembrar,
Que a muito fui um lobo do mar,
E repousa em mim nesse instante,
A lembrança de minhas eras triunfantes,
E a voz do trovão rompe a escuridão,
Penetra em meus ouvidos como um clarão,
"Escreve filho meu, lapide-se e só assim tornar-se-á diamante..." 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Odio


E novamente começo com “tão vil é a traição dos homens”,
Com o peito destroçado e o coração que já não bate,
Que o infortúnio se torne regra,
Desse desprazer chamado vida,
Me toma novamente o gosto da angustia,
E a raiva que congela meu peito cansado de amar,
Homens pequenos e de coração endurecido,
Pelo tempo em pueril esquecido,
Gélido corre o veneno em minhas veias,
Essa louca raiva que me toma ensandecido,
Gritos esses de minha alma que me deixam surdos,
Já não ouço mais o coração que antes batia,
Agora descompassado em pura agonia,
Simplesmente sussurra por um pouco de piedade,
Gélido em um chão frio dessa cidade,
A última lagrima rola pelo rosto pálido,
Sobe aos céus a vaidade dos anjos,
Como um perdão em meu ouvido a soar,
Os sinos ao longe cintilam ao tocar,
Dizem previamente ao viajante,
Que sua vida era apenas um instante,
E o simples fato do seu respirar,
Nada dizia ao mundo,
Nem menos a ele quiçá.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Brilho


Olha lá o nascer do sol,
Vem no horizonte rompendo a escuridão,
Com um grande calor a emanar de ti,
Iluminando tudo sem se dar conta,
Que existem animais que se incomodam,
Com o seu brilho e sua luz,
Corre que já vem aurora,
Lá aonde a vista se perde,
Temos tanto a se encontrar,
O céu, o mar e o sol a se distanciar,
Vem rompendo a escuridão da noite,
Me falta a melancolia de sua penumbra,
Sua sombra soturna que tanto aquece o coração,
Mas se para lá quero voltar? Já não posso mais falar,
Queria tanto que estivesse aqui agora,
Para ver essa minha indecisão,
E entender que toda ela é por você,
Esse grande amor que foge do meu peito,
Grita, brada aos ventos teu querer,
Sentimento esse que nunca irei esquecer,
Meu amor por ti já não cabe em meu ser,
Já passo horas a pensar somente em ti,
Fico tanto tempo amando-te que fico à mercê,
A única coisa que queria agora,
Nesse momento tão nobre,
Era lhe ver.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Escrever ?


Pra que... pra quem, por qual motivo,
Minha cabeça maquina o tempo todo,
Pensa vinte e quatro horas por dia,
Sem ao menos parar por um segundo,
São sinapses rápidas e intermináveis,
Mas as vezes paro para pensar,
Sem parar de pensar um só minuto,
Será que tem alguém ai desse lado da tela?
Estará você lendo minhas linhas tortas,
Qual será o seu motivo de vir aqui as vezes,
Ou sempre não importa o quanto,
Será que se identifica com o que escrevo,
Ou apenas lê por apenas gostar do que lê,
Penso sempre antes de escrever,
Mas nunca escrevo certo o que penso,
Está aqui para saber o que penso então?
Ficarei em dívida contigo infelizmente,
Aqui apenas tem sentimentos,
Nada mecânico ou robotizado,
Sentimentos puros e simples sentimentos,
Não haverá nada racional aqui,
Nunca houve mas não sei se um dia haverá,
A racionalidade prende e maltrata a criatividade,
Só os sentimentos podem a libertar,
Para que voe longe feito avião no ar,
Enquanto fico aqui com os pês no chão a observar,
Ou será que sou eu quem voou alto no céu azul da noite.  

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ventura


Estava aqui sentado no escuro,
Neste pequeno e quente quarto escuro,
Ouvindo aquela música, lembra,
Aquela mesma que cantava despercebidamente,
Quando ficávamos horas e horas conversando,
Sem ao menos olhar o relógio ou pensar nele,
Aqueles dias que só o que importava era nos ver,
Estarmos um com o outro já era suficiente,
Mesmo quando em meio à multidão,
Só o que importava era o nosso tempo,
Nossa ventura que diziam os ventos,
Em meio a milhares eu lhe encontrei,
E o tempo já não passava mais como antes,
Éramos nós o senhor e senhora do tempo,
Ninguém nos dizia que já era tarde,
Apenas alguém para nos acompanhar,
Era isso que queríamos ao fim,
Aquele alguém especial que nos completa,
Que se encaixa em nosso ser,
E não é clichê, não se preocupe,
Tínhamos coragem de amar um grande amor,
Não esses de televisão chatos de hoje em dia,
Queria poder lhe levar a qualquer lugar,
Seja onde queira ou onde o vento queira,
Viver nossa grande aventura,
E o tempo levou você,
E fico aqui seguindo essa hora,
Tão curta e pequena hora,
Essa que o relógio espreme em dois ponteiros,
Fico a olhar para eles,
Sempre a imaginar,
Aonde será que esse tempo lhe levou,
Será que um dia ele lhe devolvera,
Ou um dia novamente vou lhe encontrar.

sábado, 9 de agosto de 2014

Sorrisos


Por quantos sorrisos,
Somos capazes de nos apaixonar?
Aqueles lindos e sinceros sorrisos,
Os sorrisos dos olhos que se alegram,
A esperança que emana de dentro das pupilas,
Essas que se dilatam de forma quase magica,
Que diabos será que tem nesses sorrisos,
Coisas tão simples e que nos fazem bem,
Uma vida inteira de sorrisos belos,
São tão afáveis quanto o fogo que arde n’alma,
Fogo esse que escorre pelo corpo,
E se esvai pelos olhos negros como a noite,
Quão belos são os sorrisos,
Mais belos em tão envolto a lagrimas,
Lagrimas de alegria e esperança,
Essas que escorrem sem querer as vezes,
Que nos fazem felizes e tristes as vezes,
Como é bom ter alguém que lhe faz sorrir chorando,
Ou até mesmo assim chorar sorrindo,
A boca cala em sorriso quando os olhos falam,
Esses sorrisos enchem nossos dias,
Se quer saber enche o dos outros também,
Sorria sempre que puder e quando não puder sorria,
Saiba que sorrisos são os mais sinceros amigos,
Pois quem não se alegra ao ver um sorriso...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Le Papillon



 

Estranho eu nunca ter falado sobre borboletas,
Na verdade vejo que nunca pensei tanto nelas,
Pequenos seres tão indefesos e tão belos,
Hoje me peguei pensando nelas,
Em milhares delas voando alto,
Não tão alto na verdade,
Estão sempre a altura das mãos,
Que vivem tentando apanha-las,
Mas elas continuam a voar livres pelo ar,
São delicadas como pequenas flores,
Flores que voam soltas no ar,
Devem continuar livres sem prisões,
Nem ao menos grilhões a prende-las,
Fico imaginando se fossem abundantes,
Se não fossem tão raras de se ver,
Será que a vida seria mais bonita,
Se nós voltássemos nossos olhos as borboletas,
Que belamente voam soltas pelo ar,
E se víssemos borboletas todos os dias,
Se fossem milhões de vezes,
Será que perderia a graça vê-las voar,
Existem pessoas que tem medo delas,
Outras as acham nojentas e sem graças,
Mas os verdadeiros admiradores de borboletas,
Sabem que devem observa-las e deslumbrar,
Sua graça antes que elas voem pra longe,
E demorem como o vento para voltar.